29 março 2006

Alice na cidade



Alice Russel já demonstrou que tem um talento enorme e uma voz capaz de arrepiar o ouvido mais empedernido. Depois das co-operações com Quantic, Quantic Soul Orchestra e TM Juke, e antes da fantástica versão de “7 Nation Army” dos White Stripes feita a meias com Nostalgia 77, lançou “Under The Munka Moon”, onde comprovou à saciedade que é uma cantora vintage, com porte de diva e voz a condizer, emocionante, negra e versátil. (E ainda há pouco, há poucochinho, estava a cantar com os The Bamboos...)

A estes dotes que por si só bastam para encher uma canção, junta o bom gosto na escolha dos produtores/artistas com quem trabalha e a quem também inspira. O último álbum de Alice chama-se “My Favourite Letters”, foi lançado o ano passado, e leva-nos numa viagem ao seu país das maravilhas, no caso, sonoras. Nitidamente mais segura e confiante do que na estreia, Alice de mão dada com TM Juke, passeia-se pelo imaginário da música negra, em calçada de funk e soul, marginal, à deriva entre o rare groove e a pop, tomando atalhos de jazz, bossa ou gospel, entre os arranjos grandiloquentes ou a intimidade de um Rhodes (a lembrar Stevie Wonder, logo no tema de abertura).
Depois de um bom disco e de um muito bom disco, não restam dúvidas de que será sempre a sensibilidade sonora e a escolha do(s) cumplice(s) para a composição e produção que farão a diferença, porque a voz está lá e cada vez melhor. Resta saber qual será a evolução musical e a visão de Alice Russel nos próximos tempos, mas isso ninguém poderá prever.

Até lá, onde e quando for, não nos faltarão motivos para ouvir Alice Russel. Ainda por cima, porque ousou pegar num clássico da música portuguesa, "Não sejas mau pra mim" da famigerada Dora, e transformá-lo num delicioso "Mean To Me".

PS - O disco cresce a cada audição...

ALICE RUSSEL vai estar no Lux, em concerto, amanhã, 5ª feira, não se sabe bem a que horas, mas é à noite

Sem comentários: