30 março 2006

Música Pipoca


Antes do conceito cinematográfico, já existia o musical...
È assim o futuro. Acontece de repente e não se pode programar. Ao contrário da música. E foi por acaso que num segundo olhei para a capa bizarra banda desenhada de uma rapariga nua salteada em manteiga quente e pipocas e preparei um movimento basculante de pulso apontando ao balde do lixo. Mas foi então que algo aconteceu. Por acaso. Podia dizer que foi um brilho, poderia mesmo dizer que foi o reflexo do sol na frigideira lustrosa da contracapa, mas a verdade é que se tratou apenas da curiosidade insaciável e irreprimível de ouvir o disco.
Popcorn Reheated é uma colectânea de versões do clássico Popcorn. Um clásscio de má memória, ou não, dependendo da dita, ou desdita, cuja história urge descobrir. Porque preconizou o futuro da música electrónica, dizem. Com pompa e circunstância o disco traz um pequeno texto que nos explica ─ e esfarrapadamente desculpa o kitsch mórbido ─ , que o autor de Popcorn, George Kinsley, lançou a semente da revolução electrónica ao fazer, pela primeira vez, música totalmente gerada por computador. Localizado o princípio activo da produção contemporânea que mais nos interessa e estimula, resolvemos aprofundar a informação, ao som de um disco que conta com inúmeras remisturas de Popcorn, algumas bastante interssantes, e assinadas por gente tão distinta Bigga Bush, Malente, Ursula 1000, Kreidler ou Antye Gry Fuchs.
Descobrimos que a confusão é quem mais ordena ou então poderemos estar perante uma teoria da conspiraçaõ.
O futuro retro-fabricado é uma ideia interessante mas não original. À boleia do beat digging ou da melomania arqueológica aguda, mergulha-se profundamente na história da música, descobrem-se raridades e a partir daí chega-se por vezes a conclusões inacreditáveis e surpreendentes. Ou toma-se a nuvem por Juno e inventa-se descaradamente, Ou simplemense inventa-se descaradamente, por despudorado gozo e cria-se um facto, uma porta para o futuro que afinal não existe, não existia ou não era bem assim.
Afinal George Kinsley existe na realidade como Gershon Kingley e fez Popcorn no álbum “Music To Moog By é um conceituado músico, compositor, uma pessoa séria, e criador que entre outras coisas, se dedicou a explorar as potencialidades do moog e de outros sintetizadores, em experimentações de corte, colagem e proto samplagem, em colaboração, por exemplo, com Jean- Jacques Perrey.

O tema Popcorn, era futurista e electrónico e fez escola, repercutindo-se através dos tempos sob a forma de sample, versão, citação, memória, ou remistura. A versão mais popular é dos Hot Butter, mas estárá prestes a eclodir nova colectânea de remisturas de gente tão ilustres Beck, Sonic Youth, Jean-Jacques Perrey com a chancela dos Beastie Boys que, a propósito, roubaram a Gershon Kingsley o titulo do álbum “The In Sound From The Way out”

Popcorn foi composto em 1969, a versão que o popularizou foi feita em 1972 e entre versões e originais, vendeu mais de 1 milhão de cópias... E a versão portuguesa era qualquer coisa como “...só (ou são) pipocas ao almoço, pipocas ao jantar, o raio das pipocas...”

Enfim, deu-me prá'qui... Depois de uma sessão de cinema pipoca. Mas é uma história ternurenta, não é?

Não há coincidências



Terça-feira, Março 28, 2006

Margarida Rebelo Pinto e Oficina do Livro requerem contra João Pedro George e Objecto Cardíaco uma providência cautelar não especificada com a finalidade de impedir a distribuição e venda da obra Couves & Alforrecas: Os Segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto. Passa-se isto a um mês das comemorações do 25 de Abril de 1974.


posted by JPG # 12:21



Ora aí está alguma polémica "literária" a estalar. O 24 horas fez capa, jornais como o Público dedicaram meia-página ao assunto e a Blogosfera agitou-se. Enquanto isso, esgrimem-se argumentos a favor e contra, e espera-se um aumento de vendas de "Couves & Alforrecas..." superior a 50%, graças a toda esta bem-vinda publicidade gratuita. Vale a pena perder alguns minutos com o assunto, epicentro e réplicas, e ir visitando o blog Esplanar de João Pedro George, critico, pertinente e divertido (concorde-se ou não, o homem tem os seus momentos), de Margarida Rebelo Pinto (quem não o é que atire a primeira pedra...), Eduardo Prado Coelho, Maria Filomena Mónica e apreciador de Luiz Pacheco. Um dia destes enviamos-lhe um convite para a tertúlia...Ate porque não há coincidências.
A Oxigénio, na pessoa de Ana Teixeira, ex madrugadora matinal, já tinha feito um pequeno destaque ao Blog e agora voltámos lá. Com prazer, Sei Lá.

29 março 2006

Alice na cidade



Alice Russel já demonstrou que tem um talento enorme e uma voz capaz de arrepiar o ouvido mais empedernido. Depois das co-operações com Quantic, Quantic Soul Orchestra e TM Juke, e antes da fantástica versão de “7 Nation Army” dos White Stripes feita a meias com Nostalgia 77, lançou “Under The Munka Moon”, onde comprovou à saciedade que é uma cantora vintage, com porte de diva e voz a condizer, emocionante, negra e versátil. (E ainda há pouco, há poucochinho, estava a cantar com os The Bamboos...)

A estes dotes que por si só bastam para encher uma canção, junta o bom gosto na escolha dos produtores/artistas com quem trabalha e a quem também inspira. O último álbum de Alice chama-se “My Favourite Letters”, foi lançado o ano passado, e leva-nos numa viagem ao seu país das maravilhas, no caso, sonoras. Nitidamente mais segura e confiante do que na estreia, Alice de mão dada com TM Juke, passeia-se pelo imaginário da música negra, em calçada de funk e soul, marginal, à deriva entre o rare groove e a pop, tomando atalhos de jazz, bossa ou gospel, entre os arranjos grandiloquentes ou a intimidade de um Rhodes (a lembrar Stevie Wonder, logo no tema de abertura).
Depois de um bom disco e de um muito bom disco, não restam dúvidas de que será sempre a sensibilidade sonora e a escolha do(s) cumplice(s) para a composição e produção que farão a diferença, porque a voz está lá e cada vez melhor. Resta saber qual será a evolução musical e a visão de Alice Russel nos próximos tempos, mas isso ninguém poderá prever.

Até lá, onde e quando for, não nos faltarão motivos para ouvir Alice Russel. Ainda por cima, porque ousou pegar num clássico da música portuguesa, "Não sejas mau pra mim" da famigerada Dora, e transformá-lo num delicioso "Mean To Me".

PS - O disco cresce a cada audição...

ALICE RUSSEL vai estar no Lux, em concerto, amanhã, 5ª feira, não se sabe bem a que horas, mas é à noite

Jah! A seguir... (A firma Perera)



JAHCOOZI


Enquanto 9 em cada 10 editoras portuguesas continuam a ruminar os motivos da descida das vendas do fonograma e atascadas no comodismo, indiferença, incompetência, autismo, amiguismo, ignorância e mau gosto em geral dos seus activos, há que ir lá fora e fazer pela vida.
É cada vez mais impressionante a quantidade de bandas, artistas, discos (em qualquer formato) que não são objecto de edição ou distribuição nacional. Ou então quando por um acaso esta acontece é subalternizada, atrasada e maltratada. É assim há muitos anos mas felizmente a internet deixa-nos o mundo, também da música, há distância da torção de qualquer falange.
Posto isto, encontrámos os Jahcoozi, e o EP "Black Barbie", na editora Kitty-Yo (que até é uma editora com algum nome e "fashionability"...), e a primeira prova documental da colocação de Jah numa solução efervescente em pré-ebulição de vários imaginários musicais. Nada como citar, no original, as suculentas descrições disponíveis. A saber, os Jahcoozi praticam uma espécie de:
Blip Hop, Ragga-Tech, punky RnB, Click Pop Illectronica, Intelligent Dancehall Trip Music. avantglitchpop.
Será algures por aqui, o resultado encontro possível entre MIA, Spectrum e os melhores Massive Attack, entre outras coisas. Não é nada dispiciendo, antes pelo contrário, também ficar a saber que o trio Jah foi adoptado por Stereotyp e pela grande família da Germaica.
Os Jahcoozi são uma vocalista anglo-sri lankesa, com apelido Perera de ascendência portuguesa (dos tempos em que o Sri Lanka ainda era o Ceilão. E terá sido mais ou menos por esta altura que surgiu a expressão "tem falta de chá"), mais um beatmaker berlinense e um baixista de Tel Aviv.
Feita a aritmética geográfica temos uma mistura musical e referencial explosiva que nos chega finalmente aos ouvidos e cujo álbum de estreia, intitulado "Pure Breed Mongrel", foi editado o ano passado e já está encomendado via NET. Mas chegam estes três temas (um deles uma vertigem apunkalhada de um minuto e pouco) e remistura de Stereotyp que o EP Black Barbie ( e o título, claro...) nos oferece para que nunca mais os deixemos passar ao lado. Venham eles, os mestiços de raça pura, baralhar e voltar a baralhar para ver se isso dá algo de novo.

27 março 2006

Mais uma tertúlia animada (outra perspectiva)

mil-folhas framboesa





Na última sexta, Bernardo Mendonça esteve em grande, como é, de resto, seu apanágio. Perante a questão "Olá, eu sou o ALexandre. Como é que isto funciona?", retorquiu sem hesitações (mentira, hesitou na quantidade de mil folhas a pedir), "Bem, é um cappucino, um café, e mil folhas..."
Ora aí está! É mesmo assim que a coisa funciona. O Alexandre apresentou-se à civil, estilo casual. O nosso café mistério também funciona em ambiente casual (em inglês, no original) e eu próprio fiquei na dúvida. Natural e descontraidamente, com algumas gargalhadas à mistura, a conversa começou a fluir. A história dele passou-se em Marrocos, onde esteve um mês e meio, baseado (em brasileiro, no original) em Essaouira e encontrou o Nick Cave. É a terceira pessoa que eu conheço que encontra o Nick Cave em Marrocos, o que significa que o cabecilha dos Bad Seeds passa lá a vida, provavelmente por causa da flora local. Entre Marrocos e a volta à América Latina da Diana, a primeira a chegar ao sofa da tertulia, fomos viajando ao sabor da corrente e dos mais diversos assuntos. A tertulia alargou-se, e a conversa multiplicou-se e cruzou-se, com o Leonel, a Carla e o grande Moisés, o nosso anfitrião, trajando à civil. O Alentejo esteve em maioria, houve quem almoçasse pelo meio e quando por volta das 13.40 tive de sair a correr para voltar à Oxigenio (o2 weekend, 14-15, todas as sextas), ainda por lá ficaram "tertulianos" em amena cavaqueira. É esse o espírito.
Ficam algumas sugestões, para memória futura.

Alexandre Esgaio recomendou

The Voyages of Captain Cook, de RL Stevenson (a versão original é mais barata e maneirinha)
A vida de Afonso Contreras (um relato autobiográfico do próprio A. Contreras, aventureiro a soldo do destino nos anos de 1600)

O Leonel trouxe-nos

"O primeiro homem" de Albert Camus (ainda não leu mas recomenda à mesma com base na dimensão do autor, de "O Estrangeiro", "A Queda", "O Mito de Sissifo" - este foi acrescentou o Alexandre - e ainda a forte impressão que lhe causou a clássica apresentação televisiva do enorme e culto Jorge Gabriel em concurso televisivo do tipo "o jogo da mala" (basicamente disse o nome Albert Camus com pronúncia inglesa ebastante afectada por sinal)

Lest, bâte note de list, a Diana, montou no side-car de Ewan McGregor

livro, série de televisão e dvd de "Long Way Round", uma viagem de mota entre Londres e Nova Iorque realizada pelo mais famoso (e único) junki-jedi do mundo e pelo companheiro Charley Boorman (filho do realizador de cinema John)

Para a semana, APAREÇAM!

Et la nave va... e move-se

Mille-feuille von Kartoffeln und Tomaten (batata e tomate)





Finalmente a coisa (pública) a que damos carinhosamente o nome de Tertulia WD (world domination)e cuja palavra de ordem é "Nós é mais bolos" começa a navegar, velas enfunadas pelo esforço colectivo de livros, mil folhas e uma crescente cumplicidade de uma espécie de nova maçonaria sem avental.

A todos aqueles que tornaram isto possivel, o nosso muito obrigado e só tenho pena de não poder complementar o agradecimento com "Tenho uma lágrima no canto do olho" de Bonga (e Flapi???, o que será feito de ele) e uma edição de "Team America" autografada por Alec Baldwin e recheada de ideias interessantes sobre a dinâmica de grupos.

Correndo o risco da redundância despeço-me com amizade e com um grande Bem Haja. Prontos!