16 abril 2006

MEA CULPA


Fiquei algo perturbado com a leitura da crónica da Clara Ferreira Alves na última Única (!) do jornal Expresso. Intitula-se “A morte do romance” e diz assim: “Este é o tempo imperial de Dan Brown e de Paulo Coelho, que sempre coexistiram com os romancistas e nunca foram com eles confundidos. E Umberto Eco, outro mistificador, insistiu em pastichar(*) uns e outros e fundi-los em O Nome da Rosa, embrulhado em erudição e medievalismo”. (*) pastichar significa imitar, para quem não conhecia o termo, como eu. São mais que comuns os ataques ao Dan Brown e ao Paulo Coelho e obviamente isto até já foi motivo de conversa na tertúlia por várias vezes, com muitos de nós a confessar que já lemos livros de uns e outros (Margarida Rebelo Pinto, que não é uma mistificadora porque... sei lá... incluída). Eu nunca li Paulo Coelho. Teria lido certamente, no meu fim de adolescência, se uma amiga não me tivesse bombardeado com cartas durante umas férias de Verão contendo umas frases místicas que eu até achava interessantes, como “o universo conspira pela tua felicidade” e coisas do género. Eram simpáticas e tinham uma dose qb de poesia. A coisa ficou mais estranha quando ela começou a utilizar expressões que eu não conhecia como Maktub e foi assim que eu descobri o plágio e considerei que já tinha lido tudo o que me interessava de Paulo Coelho sem nunca ter pegado num livro dele. De Dan Brown, que eu achava que era uma mulher (será que Danielle Steele, afinal, também é um homem?), li há dois anos atrás O Código de Da Vinci, que me foi oferecido como prenda de aniversário. Li-o durante umas férias de Verão e guardo-o na minha prateleira sem capa nem as primeiras folhas e com a lombada mastigada pelo meu cão. Li-o e até gostei. Não gostei propriamente do livro, mas gostei de o ler. Entreteve-me e divertiu-me. Naquela altura achei que a... perdão... o Dan Brown era um fulano com excelente imaginação para ter criado aquela fábula intrincada quase tão extraordinária como a própria ressurreição de Cristo, que hoje se comemora. No entanto, depois de uma pesquisa rápida, percebi que a única coisa que tinha algum interesse no livro nem sequer tinha sido criada por ele. Ao contrário do Paulo Coelho, este eu li verdadeiramente uma vez, até gostei, mas não tornarei a repetir. Agora, o me perturbou mais na crónica da CFA, foi ver o Umberto Eco incluído no mesmo grupo que os outros dois. Para mim, aqui a coisa complica-se. Eu comecei por ler A Ilha do Dia Antes, no final da minha adolescência (lá está, uma altura em que se cometem muitas asneiras) e gostei bastante. E, pior!, li depois O Nome da Rosa e tornei a gostar. E, como se não bastasse, ainda comprei O Pêndulo de Foucault e comecei a lê-lo duas vezes. Da primeira vez não o terminei e da segunda já nem me lembro, o que pode constituir um argumento a meu favor. Mas, analisando a minha situação e a crónica da CFA, devo concluir que nunca chegarei a pertencer a uma elite intelectual. E, agora que me analiso, recordo aquele fim-de-tarde na esplanada da cinemateca, frustrados por não termos conseguido bilhetes para um documentário sobre o Pasolini e folheando guias culturais à procura de alternativas à altura. A minha sugestão recaíu sobre A Idade do Gelo de Chris Wedge! “What have I done?” Se isto fosse um thriller americano, daqui a pouco, quando abrisse o livro O Primeiro Homem de Albert Camus, com as mãos trémulas e aspergindo suor, iria descobrir, por detrás daquela discreta capa falsa, uma outra com uma qualquer cor fluorescente e um título banal assinada pela Magarida Rebelo Pinto.

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